QUANDO OS SINOS TOCAM
Cantam os sinos
nessa hora muda
e a rebentação das marés
sopra um vento
aberto e frio.
O silêncio dos desejos
e o chão das palavras,
asfixiam os possíveis
significados.
Mar, mar e vento,
lembranças caídas
sob cordilheiras
e longínquos oceanos.
Somente
os mares intensos,
os contos,
e as cantigas de uma vida
que sussurraram caminhos,
driblando as pedras
no vertiginoso destino,
ressoam nesse momento.
O sino repica,
se curva a vida
defronte ao mar,
e segue incólume
o balanço das ondas
no mesmo navegar.
A saudade ouvirá
nos quatro cantos
do mundo
um “bom dia!”,
e tudo continuará,
o vento duro e frio,
a incomunicação
e a metáfora da vida.
Amar, amar
sempre será
uma possibilidade
diante da diáspora
existencial.
(Imagem: Capa do livro “Últimos poemas, O MAR E OS SINOS”, de Pablo Neruda. Último livro escrito pelo poeta, foi concluído no seu leito de morte, em setembro de 1973)