MUNDO
DOS OLHARES
Morrerei
por falta de afeto.
Mereci? Não sei.
Plantei? Talvez.
Morrerei primeiro
por falta de afeto.
Agora, já tarde,
aprendi que a vida
somente tem sentido
no mundo dos olhares.
No tempo
que ainda me resta,
trabalharei menos,
buscarei menos as coisas
e semearei mais afeto.
Errei brutalmente
em querer tantas coisas,
saber quase tudo,
prestígios, regalias,
vida boa
e essa mania
irrefreável de poder,
inclusive
sobre as pessoas.
Essa falta
é tão urgente,
é como uma dor
anginosa no peito.
Antes que a vida
de fato se acabe,
morrerei primeiro
por dentro,
por falta de afeto.
(Pintura: Obra de Adelina Gomes)