MEUS OLHOS
SÃO PEQUENOS
PARA VER
Mísseis cortando os céus
das noites estreladas
- não há mais poesia -
somente olhos fustigados
pelos clarões do horror.
Cadentes de aço
teleguiadas,
levando na ponta
o ódio, as lágrimas
e a dor.
Gente constrangida,
escondida e ferida,
em esconderijos
subterrâneos,
assustadas
e subjugadas
aos apitos
das sirenes.
Nas sepulturas
das nações mutiladas,
as vozes dos sinos
em estridente choro,
suplicam tréguas
à fúria dos soldados.
Pelos cantos do mundo
beijos cancelados
e amores perdidos
na próxima explosão.
Meus olhos
são pequenos
e estão cansados
de ver tanto medo
e a esperança atônita
sem entender
o por quê.
(Diálogo poético com o poema “VISÃO 1944” de Carlos Drummond de Andrade, publicado no livro “A Rosa do povo, 1945”. Imagem: Domo de Ferro de Israel barra mísseis do Irã — Foto: Leo Correa/yAP)